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Um dia todos nós somos obrigados a sair do casulo e a arriscar um primeiro voo.
Fico novamente sozinha neste espaço fechado, apenas na companhia dos enfermeiros. Pergunto-lhes o que estão aqui a fazer mas fazem de conta que não me ouvem. Grito-lhes, mas mantêm-se serenos como se nada fosse. Os dois estabelecem um olhar cúmplice e agarram-me com força.
– Larguem-me! Estão a ouvir? Parem seus brutamontes! Deixem-me, o que é que estão a fazer?
Não me respondem. Apoderam-se de mim sem pedir qualquer autorização. Tentam imobilizar-me, mas eu debato-me contra eles e contesto o que me estão a fazer. Apesar de tudo, não consigo evitar. Eles introduzem a seringa no meu corpo. A partir daí paralisei. Aquela seringa veio acalmar-me as memórias. O líquido no seu interior penetrou no meu braço e trouxe-me a sensação de dormência, desarmei, a minha incapacidade ficou ainda mais exposta. Permito-me pousar a cabeça na almofada sem me manifestar mais. Fico calada, imóvel, na esperança que os sedativos me levem para longe desta dor gritante que se ocupou de mim. Possivelmente é assim que estas coisas funcionam, quando não conseguem acalmar-nos, tentam estagnar o nosso sofrimento.