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Um dia todos nós somos obrigados a sair do casulo e a arriscar um primeiro voo.
Todos temos alguém querido que já não está presente nas nossas vidas (fisicamente). Infelizmente perder alguém é sempre um momento triste e que nos faz repensar na vida e na nossa postura perante ela. Há três anos atrás deixei de ter perto de mim uma pessoa muito especial. Acho que não a perdi, ela continua a ser minha, minha bisavó, a minha menina de olhos cintilantes, mas de facto não posso tê-la comigo e abraçá-la sempre que me apetece. Isso custa. Há medida que o tempo passa a saudade aumenta. As memórias ficam e o amor também. Gosto tanto dela como há três anos atrás, mas talvez me tenha apercebido tarde demais que gostava mesmo muito dela. Acreditar que ela está a olhar por mim, que me ouve e que me vê fez-me conseguir ultrapassar melhor o momento em que deixei de a poder abraçar, e sei que estava a sofrer. Espero que agora esteja em paz, e que continue a sorrir. Há momentos simples que mais tarde se revelam marcantes e com a minha bisavó isso aconteceu muito. Agora são esses momentos mais simples que recordo e que me fazem sorrir. Os olhos sempre brilhantes, aquele olhar transparente, o sorriso aberto, as mãos sempre quentes, as cócegas e os pequenos gestos de carinho. Recordo tudo com muito amor, mas sobretudo com muita vontade de poder a voltar a olhá-la, a abraçá-la e a ouvir as suas gargalhadas. Tenho saudades. Mas a vida não pode ser de outro jeito. Continuo a amá-la, e também por isso lhe dediquei o meu último livro. Tenho pena que já não possa oferecer-lhe um e partilhar com ela a minha felicidade, mas tenho a certeza de que ela estará feliz por mim. E ela é uma parte boa de mim. Estou grata por tê-la tido na minha vida.
Hoje recordo também o adeus. Não consigo descrever o quanto me marcou. Aquele adeus dito da janela sem ninguém conseguir prever que seria o último. Mas foi.
Sinto-me pequenina como se tivesse seis anos, insegura como se tivesse sete e confusa como se tivesse oito ou nove. Chorar alivia, mas não te trás de volta, por isso já limpei as lágrimas. Afinal, continuas viva em mim. Mas fazes-me falta, tanta falta.
E as lembranças confundem-se com saudades.