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Um dia todos nós somos obrigados a sair do casulo e a arriscar um primeiro voo.
A porta abre-se subitamente e eu estremeço. Sinto um arrepio e uma sensação de medo que nunca me foi característico.
- Camila! Já te dissemos que tens de alimentar, porque é que não tocaste no almoço?
A pergunta perde-se na falta de resposta. Não me lembrei de comer. Aqui não me reconheço, não sou eu, e não tenho muitas palavras.... desvanecem-se quase todas na angustia que me preenche os dias, e na revolta com que suplico para que me tirem daqui. Ninguém me ouve, ou então, fingem não ouvir. E eu volto a sentar-me no chão gelado, aninho-me e abraço as minhas pernas com toda a força que ainda me resta, depois poiso a cabeça sobre elas e fico assim horas e horas. Perdida.
Ao jantar ouço novamente palavras semelhantes às do almoço.
- Carlota tens de comer para depois tomares os medicamente, anda, levanta-te! Come!
Arrasto-me pelo chão até chegar ao sítio onde o enfermeiro me deixou o tabuleiro e fico a olhá-lo fixamente.
- Come! - repete-me, com frieza.
É neste momento que, muitas vezes, as lágrimas me percorrem o rosto. A dor torna-se tão forte e insuportável que choro compulsivamente e dou por mim a implorar novamente que me tirem daqui, que ao menos me deixem ver a luz do sol e sentir o vento a baloiçar-me os cabelos. Já nem me atrevo a pedir que me deixem pisar a areia da praia e dar um mergulho no mar. E eu queria tanto fazê-lo.
Grito, mas, ninguém me ouve.