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Um dia todos nós somos obrigados a sair do casulo e a arriscar um primeiro voo.
Sempre foi uma paixão minha. Escrever sobre tudo e mais alguma coisa. Escrever. É um refúgio para a alma. A escrita não nos julga, não nos ralha, não se zanga se dissermos alguma coisa que não devemos. Ouve-nos e absorve o que dizemos, guarda tudo para ela e não conta a ninguém. É como se fosse um segredo.
A escrita faz parte de mim, mas, mais do que isso, eu faço parte dela. E faço dela colega. Reconheço tudo o que escrevo e descrevo, porque tudo isso sou eu, mesmo que a personagem seja outra. Enquanto escrevo vivo cada palavra e imprimo nos outros, aqueles sobre quem escrevo quando não escrevo exclusivamente sobre mim, um pouco do que já vi e ouvi, e faço meus os sentimentos deles e deles os meus. E às vezes é através da escrita que comunico comigo, sem verdades absolutas nem mentiras comprovadas, sem certezas. É um mundo paralelo, um mundo que é meu, e onde só entra quem eu deixar.
Um dia disseram-me que todos nós temos um dom. Não discordei, talvez toda a gente há minha volta tivesse realmente um, toda a gente excepto eu. Demorei muito até compreender se teria ou não algum dom, não o procurei, mas tinha curiosidade de o descobrir. Foi então que percebi que talvez eu já o tivesse encontrado e não tinha dado conta, e talvez esse dom fosse o de escrever, e usar a escrita como uma catarse.
Escrevo páginas e páginas de memórias, umas minhas, outras herdadas. E umas mais abstratas que outras. Mas todas elas são importantes e todas elas me fazem pensar. E faz-me bem sair da minha pele por alguns instantes e pôr-me na pele dos outros. Viver a vida deles como se fosse a minha e experimentá-la. Aprendo com isso. É por isso que continuo a escrever. E escrevo.
in "O Primeiro Voo"